Sim, você sabe: nós, homens,
adoramos carros. Aliás, todo mundo sabe. Esse amor é tanto que, para alguns
caras, é o único ser a quem conseguem ser fiéis. Homens gostam de carros mesmo
sem saber articular o motivo. Carros fazem a
gente se sentir o máximo. Eles nos deixam atraentes (mas há controvérsias…).
São divertidos, barulhentos, fortificantes. Jovens ou velhos, ricos ou pobres, baladeiros estilosos ou
barbudos solitários, os homens adoram um carro. É a única máquina que define essa tribo. E aqui perguntamos… por quê?
NOSSOS CARROS NOS FAZEM HOMENS
Os homens amam dirigir. Se você
observar as famílias em férias parando em restaurantes de estrada, é quase
sempre o pai quem está ao volante. O mesmo vale para casais de namorados. São
os homens que dirigem. Um estudo da Universidade de Minnesota (EUA) descobriu
duas razões pelas quais os homens amam a direção: os apelos de afirmar a
masculinidade por meio da tecnologia, e o de estar no controle do próprio
“destino”. Este último motivo pode ser discutível, claro, mas eles certamente
nos colocam no controle do destino da viagem ou do passeio.
Tornar-se um motorista é também
um marco na vida de um homem. Com isso vem sua identidade. Um estudo feito em
2003 no Reino Unido observou que, embora homens e mulheres gostem dos
benefícios psicos sociais proporcionados pelo automóvel – sentimentos de autonomia,
proteção e prestígio –, somente os homens obtêm aumentos mensuráveis de
autoestima. O estudo também concluiu que o tipo do carro traz benefícios
psicológicos aos homens, mas não às mulheres. Aí está a demonstração do efeito
do esportivo.
NOSSOS CARROS NOS ENTENDEM
Sejamos francos: os carros dão a
nossos impulsos primitivos uma espada de 1 800 kg. Uma pesquisa do Departamento
Nacional de Trânsito (Denatran) mostrou que apenas 11% dos condutores
envolvidos em acidentes de trânsito com vítimas, ocorridos entre os anos de
2004 e 2007, eram mulheres. Seja em um semáforo da Avenida Brasil, em São
Paulo, seja no circuito de Interlagos, o automóvel tem nos permitido dar vazão
a nossos antigos impulsos de gladiadores. Esta é uma grande diferença entre o homem
e a mulher. (Sim, as mulheres também dirigem, e algumas correm bem, mas,
tirando exceções como Danica Patrick, elas não costumam expressar agressividade
com máquinas de quatro rodas.) E aqui está o problema que nenhuma legislação de
segurança no mundo consegue remediar: correr é gostoso. É divertido para valer.
Os carros são o primeiro e mais popular esporte radical da sociedade
industrializada.
Mas o que está por trás da
tremenda intimidade entre nós e a velocidade, entre homens e carros? Bem, os
homens não são simplesmente donos – eles têm um relacionamento com o carro. Uma
análise publicada em julho de 2009 em Psychology of Men & Masculinity
observa que os homens têm mais dificuldade em identificar e verbalizar emoções.
Isso se chama alexitimia. Em outras palavras, do ponto de vista psicológico,
somos uma espécie de paspalhos emocionais com a língua meio presa. A beleza de
todas as máquinas, mas particularmente dos automóveis, é que elas não exigem
inteligência emocional. Os automóveis são racionais e finitos. São sistemas
ordenados feitos de aço, fogo e eletricidade. Os carros permitem que os homens
desliguem seu hemisfério cerebral direito, normalmente inferior e
inconveniente. Não importa se é um garoto de 20 anos instalando um turbo em um
Gol ou um velhote polindo seu Maverick, o homem saboreia o processo mais do que
os resultados, as horas de tranquilidade com objetivo, quando o que se tem é um
parafuso, uma ferramenta e um trabalho a ser feito. Além do mais, os automóveis
põem nossa cabeça em ordem. Você pode deixar um carro tinindo, perfeito. O
mundo é um lugar bagunçado, cheio de entropia e desordem. Nossos camaradas
humanos são, de muitas formas, criaturas fracassadas que inevitavelmente
falham. Os homens tendem a buscar saídas para impor ordem, perfeição –
colecionando selos, organizando suas bibliotecas particulares, montando navios
em garrafas. O automóvel, recebendo doses suficientes de cera, óleo, cromação e
pintura, pode ser elevado a um estado imaculado… até virginal, se você
preferir. Se a felicidade é a culminação de muitos sucessos, trabalhar em um
automóvel é uma empreitada que gera bênçãos inigualáveis.
Quer economizar? Pilote com o
conta-giros!
Você pode poupar combustível com
a ajuda do tacômetro (conta-giros), não só do velocímetro. A primeira coisa a
fazer é descobrir a rotação em que o motor atinge o torque máximo. O Manual do
Proprietário traz essa informação no capítulo das especificações técnicas. É
nessa rotação que o motor consegue a máxima força que seu projeto permite com o
mínimo de consumo. Se o Manual disser, por exemplo, que seu carro tem torque
máximo de 15,6 mkgf a 2 500 rpm, você deve trocar a marcha sempre nesta
rotação, ou próximo a ela, para melhorar a relação desempenho/consumo. Acima
disso, seu carro pode até desenvolver velocidade, mas o consumo aumenta.
Abaixo, pode-se economizar um pouco de combustível, mas depende da situação; se
você precisar pisar no acelerador porque o motor perdeu força, o gasto será
maior do que se você mantivesse a rotação correta.
NOSSOS CARROS SEDUZEM AS MULHERES
Em 2008, a seguradora de modelos
de luxo britânica Hiscox divulgou os resultados de um estudo aparentemente
confirmando tudo o que queríamos que fosse verdade. Um grupo de 20 homens e 20
mulheres com idades entre 22 e 61 anos foi exposto a 30 segundos de gravações
de roncos de motores – Lamborghini, Maserati, Ferrari e um morno Volkswagen
Polo, para contrastar. As mulheres ficavam sexualmente excitadas com o ruído de
um carro esportivo de alto desempenho.
“Podemos afirmar com segurança
que o ronco de um motor de luxo realmente causa uma resposta fisiológica
primitiva”, relatou o autor do estudo, David Moxon. O estudo da Hiscox provocou
um turbilhão na internet. Ali estava, finalmente, a prova clínica de que
cavalos de força equivalem a calcinhas no retrovisor. Se ao menos fosse assim
tão simples… Tudo bem, deve haver garotos em Goiás conseguindo transar com as
piriguetes da cidade porque elas querem ver o interior da picape de rodas de 12
polegadas. Garotas gostam de bad boys e, por extensão lógica, dos carros desses
manés. Mas seria errado supor que é o carro, o maquinário em si, que as excita.
Os carros somente são afrodisíacos quando sugerem dinheiro, status e sucesso.
“Machos, como parceiros, são valorizados por sua riqueza e poder, por sua
capacidade de ajudar a criar a prole”, diz Satochi Kanazawa, professor da
Escola de Londres de Economia e Ciência Política e coautor de Why Beautiful
People Have More Daughters (Por que Pessoas Bonitas Têm Mais Filhas). “Enquanto
isso, as fêmeas são valorizadas por sua juventude e beleza. Essa dinâmica não
muda há milênios.” E conclui: “Na medida em que são um sinal às fêmeas, os
carros são apenas um indicativo rápido e confiável de nossa afluência material,
nosso status tribal”. Será que precisamos de cientistas de avental branco para
nos dizer isso? Provavelmente não. Sem um carro decente, você é facilmente
descartado como inapto para namoro ou acasalamento. Sempre foi assim.
Mobilidade equivale a nobreza, exatamente como o cavalo conferia um status
nobre ao cavaleiro.
NOSSOS CARROS NOS DÃO UMA ROTA DE
FUGA
É chavão da psicologia pop que o
homem precisa de um tempo sozinho para curtir sua fossa – e que o homem é
diferente de sua companheira. Por mais que seja um clichê, é verdade. Esse tipo
de programa no cérebro do homem pode ser um produto evolucionário de eras de
caçadas solitárias.
Uma viagem de carro sozinho é uma
das poucas atividades que deixam os homens ficarem a sós sem patologizar a
solidão. Experimente dizer aos amigos e à família que você vai passar uns dias
na praia sem ninguém, ou que vai sair para velejar. A reação provavelmente será
de descrença ou preocupação. Dirigir por longas distâncias surge na literatura,
de Jack Kerouac a Stephen King, como um exercício zen, uma prática de cair na
hipnose massiva da estrada, com a cabeça no momento e a paisagem passando. Uma
semana na estrada sozinho é um presente raro e fantástico a você mesmo. Você se
ouve pensando. Retoma discussões com ex-namoradas e ex-esposas. Comunga com o
espírito de seu pai, que partiu há anos. Depois começa a produzir novos
pensamentos. Começa, por exemplo, a pensar em mudar o mundo. No fim das contas,
a experiência masculina, esse apreço masculino pelo automóvel foi moldado pela
tecnologia, pelo poderoso motor a pistão movido por combustão interna. E isso é
um problema. O poder e a glória, o fogo e o trovão, a gama indefinida de
automóveis que conhecemos está baseada na gasolina. Em termos de força pura,
nenhuma bateria chega perto. Um típico carro a gasolina roda entre 400 e 800
quilômetros com um tanque, e requer apenas alguns minutos para se reabastecer
em um dos milhares de postos do Brasil.
Não damos importância a essa
estrutura, mas a comodidade é incrível. Será que aquela higiene mental através
de mil quilômetros – ou mais – de estradas seria possível em um carro elétrico
que levaria horas para reabastecer? Esta é uma tecnologia condenada. É fácil
pensar que nossa paixão por carros morrerá com ela. Com os carros elétricos,
aquele ruído de escapamento que vibra até as costelas vai sumir – e ser
substituído por um leve zumbido elétrico, tão emocionante quanto um aparelho de
cozinha.
Mas vale lembrar que, em matéria
de carros, os homens estão no comando. O fato é que, enquanto os homens
fabricarem carros, nosso caso de amor continuará. Já sabemos que os carros
elétricos serão velozes, e com a velocidade vem o perigo, e com o perigo vem a
satisfação e a definição do que somos. Na verdade, os carros elétricos do
futuro – cheios de torque – serão mais rápidos e possantes do que seus
antecessores a gasolina. Apenas serão mais silenciosos, e aposto que daremos um
jeito nisso também.
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